(por Lucirley Araújo, Itapiranga-SC, 30/12/15)
Que relação pode existir entre a
felicidade e um rio?
Parece-me que a explicação começa
quando sentamos à beira de um rio para apreciá-lo.
De outro modo, poderíamos dizer
que felicidade é quando a paz se senta no banquinho da praça ao final da tarde,
apenas para ver o movimento.
Mas que movimento seria esse?
É o mesmo movimento que fazem as
águas de um grande rio.
Repare que elas não ficam
estacionadas; seu comportamento, na verdade, diz muito sobre sua personalidade.
Águas calmas sinalizam reflexão;
águas agitadas demonstram atitude, decisão, vontade de chegar a um destino.
E qual seria o destino de um
grande rio? Seria o seu grande mistério apenas seguir para o mar?
Procurei no Rio Uruguai detalhes
desta resposta.
Observe que em seu leito há
pedras grandes e firmes e em suas margens, árvores com galhos deitados sobre as
águas e o barro.
A primeira impressão é simples e
lógica: “ah, é claro que as pedras no leito do rio só servem para atrapalhar
quem tenta atravessar o gigante e as árvores são frágeis e por isso estão
caídas”.
Resolvi, por bem, fazer a
pergunta ao próprio rio e vejam o que ele me respondeu:
“As pedras, na verdade, servem
para educar a água e nos dias de tempestades e serração, salvam vidas de
pescadores e daqueles que se arriscam à travessia. Os peixes nelas encontram
abrigo, se reproduzem, e os barcos, delas se desviam para chegar ao seu destino”.
“As árvores aparentemente caídas
acarinham as minhas águas. Nelas posso deixar um pouco do barro e da sujeira
que jogam em mim; peço inclusive que leve esta mensagem a todos de tua espécie:
cada vez que atiram algo em minha direção é contra vocês mesmos que o fazem”.
Meio sem graça, já lambado pelo
rebote do velho Uruguai, eu já estava desanimado de lembrá-lo que meu objetivo
era responder à grande pergunta: mas afinal, qual a relação entre um grande rio
e a felicidade?
Sem resposta, já pensando em
caminhar na direção da Avenida Beira Rio em Itapiranga - SC, eis que me lembrei
que meus chinelos haviam ficado dentro d’água. Ainda tentei nadar atrás deles,
mas logo vi que a correnteza os havia levado.
Já cansado de nadar, sentei-me às
margens do gigante e ele me respondeu:
“Esta é a relação entre um rio e
a felicidade – levei tuas sandálias para que nunca se esqueça que seus pés sem
minha vida não são nada, e onde estiveres estarão minhas lembranças. Vá, homem
mineiro, e diga aos seus que a felicidade começa na vida sem as sandálias”.