domingo, 24 de abril de 2016

Felicidade, às margens do Rio Uruguai



(por Lucirley Araújo, Itapiranga-SC, 30/12/15)

Que relação pode existir entre a felicidade e um rio?
Parece-me que a explicação começa quando sentamos à beira de um rio para apreciá-lo.
De outro modo, poderíamos dizer que felicidade é quando a paz se senta no banquinho da praça ao final da tarde, apenas para ver o movimento.

Mas que movimento seria esse?
É o mesmo movimento que fazem as águas de um grande rio.
Repare que elas não ficam estacionadas; seu comportamento, na verdade, diz muito sobre sua personalidade.
Águas calmas sinalizam reflexão; águas agitadas demonstram atitude, decisão, vontade de chegar a um destino.
E qual seria o destino de um grande rio? Seria o seu grande mistério apenas seguir para o mar?
Procurei no Rio Uruguai detalhes desta resposta.

Observe que em seu leito há pedras grandes e firmes e em suas margens, árvores com galhos deitados sobre as águas e o barro.
A primeira impressão é simples e lógica: “ah, é claro que as pedras no leito do rio só servem para atrapalhar quem tenta atravessar o gigante e as árvores são frágeis e por isso estão caídas”.

Resolvi, por bem, fazer a pergunta ao próprio rio e vejam o que ele me respondeu:
“As pedras, na verdade, servem para educar a água e nos dias de tempestades e serração, salvam vidas de pescadores e daqueles que se arriscam à travessia. Os peixes nelas encontram abrigo, se reproduzem, e os barcos, delas se desviam para chegar ao seu destino”.

“As árvores aparentemente caídas acarinham as minhas águas. Nelas posso deixar um pouco do barro e da sujeira que jogam em mim; peço inclusive que leve esta mensagem a todos de tua espécie: cada vez que atiram algo em minha direção é contra vocês mesmos que o fazem”.

Meio sem graça, já lambado pelo rebote do velho Uruguai, eu já estava desanimado de lembrá-lo que meu objetivo era responder à grande pergunta: mas afinal, qual a relação entre um grande rio e a felicidade?
Sem resposta, já pensando em caminhar na direção da Avenida Beira Rio em Itapiranga - SC, eis que me lembrei que meus chinelos haviam ficado dentro d’água. Ainda tentei nadar atrás deles, mas logo vi que a correnteza os havia levado.

Já cansado de nadar, sentei-me às margens do gigante e ele me respondeu:
“Esta é a relação entre um rio e a felicidade – levei tuas sandálias para que nunca se esqueça que seus pés sem minha vida não são nada, e onde estiveres estarão minhas lembranças. Vá, homem mineiro, e diga aos seus que a felicidade começa na vida sem as sandálias”.

3 comentários:

Unknown disse...

BELA HOMENAGEM AO VELHO URUGUAI DE TANTAS LEMBRANÇAS BOAS DE MINHA INFÂNCIA. - Jorge Dotto.

Unknown disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Unknown disse...

Salve Rio Uruguai!
Dele ainda se provém o sustento de tantas famílias.
Suas águas guardam saudades e muitas histórias.